O clubismo exagerado existe desde que dois times entraram em campo para disputar o primeiro jogo de futebol.
Quando se misturou com o nacionalismo ficou ainda pior, porque rivalidades em outros campos viraram inimizades nos campos em que a pelota rola.
Assim conviveu o Planeta Bola desde sempre, e novas formas de intolerância surgiram através dos tempos, estimuladas pelo surgimento das torcidas organizadas, para o bem da beleza dos espetáculos e para o mal nos confrontos violentos entre adversários que viraram inimigos.
As novas plataformas de comunicação exacerbaram as hostilidades ao liberar a idiotia que tinha vergonha de aparecer e que hoje se manifesta sem pudor, protegida pelo manto, se não do anonimato, da dificuldade em ser legalmente controlada.
O que se vê na política com pregações da pior espécie, por grupos que odeiam a democracia e se valem dela para tentar extingui-la, acontece também no ambiente do esporte.
Rivais adorariam ver a morte dos adversários, cegos para o fato de que uns se alimentam dos outros.
Torcedores de bíceps muito mais ativos que seus neurônios destilam estupidezes pelas redes antissociais com a satisfação dos burros contentes.
Reportagens bem apuradas que revelem mazelas de um clube são atribuídas à parcialidade de quem as divulgou.
Até personagens sensíveis, exemplares em seus ofícios, escorregam na casca de banana do clubismo e cometem injustiças que não os deixam bem na foto.
O querido Marcelo Adnet escorregou.
Ele que, em fevereiro de 2020, deu corajosa entrevista a Ivan Finotti, nesta Folha, e disse que “a imprensa não foi feita para passar a mão na cabeça”, ridicularizou e expôs o repórter Rodrigo Mattos, do UOL, porque o jornalista perguntou ao treinador da seleção brasileira se as denúncias que envolvem o atacante Luiz Henrique com manipulação de resultados não o incomodavam.
Luiz Henrique é jogador do Botafogo, time do jornalista e excepcional humorista Adnet.
Ele que, na mesma entrevista à Folha, acertou na mosca ao dizer que “para atuar e criticar quem quer seja, é preciso ter coragem. O jornalista também, ele saiu de um lugar de conforto e está apanhando para caramba. Está sofrendo uma pressão desproporcional, antidemocrática e muitas vezes criminosa”, entregou por e de graça, sem um pingo de razão, a cara de Mattos à tapa aos fanáticos botafoguenses nas redes antissociais.
E ainda disse que o UOL era clubista, como se um veículo de tal porte se preocupasse em perseguir um clube de futebol. Ora bolas, caro Adnet!
Se ele foi capaz de tamanho escorregão, e certamente terá se arrependido ao ver as consequências, imagine o que fazem os que não têm o menor compromisso com as próprias biografias.
Para tais beócios é anti a, b ou c, por definição, os que revelam malfeitos ou criticam a, b ou c.
Jornalistas rubro-negros estão proibidos de criticar alvinegros e, muito menos, os próprios rubro-negros, porque, é óbvio, influenciadores e fanáticos entendem bulhufas de jornalismo.
Mas qual é a importância disso tudo quando o mundo se vê às voltas com o fanatismo religioso, sedento por grana e poder, do terror imposto ao Oriente Médio por Hamas, Hezbollah, Irã e Israel?
As seitas são incontroláveis.
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