O apoio de integrantes do PDT cearense à candidatura de André Fernandes (PL) em Fortaleza aprofundou o racha na legenda do ex-ministro Ciro Gomes e o afastamento com o PT. O bolsonarista disputa o segundo turno contra o petista Evandro Leitão na cidade, a maior do Nordeste.
As siglas romperam a aliança estadual nas eleições de 2022, mas seguem alinhadas no plano nacional. Dos oito vereadores eleitos pelo PDT em Fortaleza, seis declararam apoio a Fernandes e apenas um não se manifestou. O prefeito José Sarto (PDT), que amargou o terceiro lugar no primeiro turno, optou pela neutralidade.
Quem também endossou a candidatura da extrema-direita foi Roberto Cláudio (PDT), prefeito da capital cearense por dois mandatos. O movimento de apoio a Fernandes provocou uma reação da Juventude Nacional do partido, que considerou a decisão “um absurdo”.
Escreveu o grupo: “A derrota e as diversas injustiças sofridas não são justificativas para bater continência para o bolsonarismo e para extrema-direita mais bizarra que já existiu neste País”. O texto foi suficiente para provocar uma reação de Ciro Gomes, que refutou a possibilidade de ser um “puxadinho do PT”.
O presidente nacional interino do PDT, André Figueiredo, recomendou neutralidade, mas disse que a sua posição pessoal é votar no candidato petista. Com o apoio de seus colegas a André Fernandes, Figueiredo gravou um vídeo ao lado de Evandro Leitão, afirmou acreditar nos ideais de Leonel Brizola e enfatizou estar “lado a lado com aqueles que verdadeiramente defendem a democracia”.
Para André Carvalho, cientista político pela Universidade de Brasília, o PDT no Ceará enfrenta uma “profunda crise ideológica” desde a derrota de Ciro na disputa presidencial de 2018. Ele observa a debandada de pedetistas para o PSB nos últimos anos como resultado de uma briga por sobrevivência política. Neste contexto, o apoio a André Fernandes seria algo previsível.
Carvalho ainda afirma que a neutralidade adotada por alguns quadros locais é “apenas uma manobra para preservar a imagem do partido nacionalmente”.
“O que se torna evidente em todo esse cenário é a necessidade urgente de o PDT reavaliar como lida com as posições ideológicas de seus membros, especialmente suas lideranças. Caso contrário, o partido corre o risco de se tornar uma organização de nomes e números vazios, sem identidade clara.”
Uma pesquisa Datafolha divulgada na última quinta-feira 10 aponta um cenário acirrado no segundo turno. O candidato do PL registrou 47% das intenções de voto, contra 45% do petista, o que configura empate técnico.
Além dos pedetistas, Fernandes recebeu o apoio de Capitão Wagner (União), que ficou em quarto lugar no primeiro turno. O União Brasil, no entanto, liberou os filiados para votar em qualquer candidato.