Presidente diz que G20 não será palco para discussão sobre conflitos na Europa ou no Oriente Médio e que cabe à ONU criar instância com poder para resolver questões
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse nesta 6ª feira (1º.nov.2024) que a Rússia e a Ucrânia deveriam fazer um referendo com a população dos territórios em disputa para que o povo local possa decidir se querem “ser russos ou ucranianos”. O governante brasileiro afirmou que cabe à ONU (Organização das Nações Unidas) criar uma estrutura de poder para deliberar sobre as guerras atuais e que o G20 (grupo das 20 maiores economias do mundo) não será um fórum para esse tipo de tema.
“A Rússia diz que o território que estão ocupando é russo. A Ucrânia diz que é deles. Por que em vez de guerra não se faz um referendo para saber com quem o povo quer ficar? Seria muito mais simples, muito mais democrático e muito mais justo. Vamos deixar o povo decidir. Vamos consultar o povo para saber se ele quer ser russo ou ucraniano”, disse Lula ao jornalista Darius Rochebin em entrevista à emissora de televisão TF1, da França.
De acordo com o petista, falta interlocução de pessoas com credibilidade para serem ouvidas. “O Brasil está dizendo em alto e bom som que não quer participar de conflito, que na hora que houver vontade das pessoas conversarem, nos sentaremos à mesa com todas as pessoas para ver se a gente encontra uma solução pacífica. Falta conversa”, disse.
O Brasil e a China formalizaram em setembro um bloco para articular estratégias que possam encerrar a guerra no Leste Europeu, que dura mais de 2 anos. Uma reunião foi realizada em Nova York (EUA), na sede das Nações Unidas, com a participação de outros 15 países. Na época, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, criticou a iniciativa. “Eu acho que é a ONU que está enfraquecida”, disse.
Lula disse que o Brasil não convidou Zelensky para a reunião da cúpula do G20, que será no Rio em 18 e 19 de novembro. O presidente russo, Vladimir Putin, já comunicou que não viajará ao Brasil. A Rússia integra o bloco, composto pelas maiores economias do mundo. A Ucrânia não é integrante.
Putin é alvo de um mandado de prisão emitido pelo TPI (Tribunal Penal Internacional) desde março de 2023. A Corte o considerou culpado por crimes de guerra, incluindo pela deportação de crianças ucranianas à Rússia. Moscou, porém, não reconhece a decisão e a competência do TPI.
“Nós não achamos que esse fórum do G20 será um espaço para discutir a guerra entre 2 países. Nós achamos que esse fórum é para discutir os temas que já foram abordados no último G20. E nós queremos evoluir. A guerra tem um espaço dentro da ONU e a gente precisa criar uma estrutura de poder dentro da ONU, com mais credibilidade e representatividade para discutir a guerra da Ucrânia”, disse o petista.
Para Lula, a ausência dos 2 presidentes no G20 será importante para não tornar o tema da guerra central no encontro. “Queremos discutir outras coisas importantes para a humanidade e não transformar o g20 em discussão sobre guerras”, disse.