O goleiro Willian Felipe Dorn, 29, vive dias de glória. Em menos de um mês, ele foi eleito o melhor goleiro do mundo e, em seguida, foi o herói da conquista brasileira da Copa do Mundo de futsal, no Uzbequistão, que quebrou um jejum de 12 anos da seleção. Ele fez 25 defesas durante a final contra a Argentina, vencida por 2 a 1.
O país teve grandes números na competição. Foram 40 gols marcados e só seis sofridos, com o melhor ataque e a melhor defesa. Willian foi o melhor goleiro; o ala Dyego foi o craque do torneio e ficou com a bola de ouro de melhor jogador; o fixo Marlon conquistou a bola de prata, como segundo melhor jogador; e Marcel foi o artilheiro, com dez gols.
A partida final ocorreu em um domingo, no horário do almoço no Brasil. Para Willian, foi o momento perfeito para que a seleção mostrasse ao povo que o futsal brasileiro continua com relevância após a aposentadoria de Falcão.
“Conseguimos mostrar para o povo que o futsal brasileiro está vivo e que tem jogadores com muita qualidade. Falavam que, quando o Falcão saísse da seleção, o futsal acabaria. E, claro, o Falcão faz falta para todo o mundo, para qualquer time, imagine a seleção. Mas mostramos que o futsal brasileiro tem vários jogadores que são os melhores do mundo em suas posições”, afirmou.
Antes de entrar em quadra para a decisão contra a Argentina, Willian se sentiu nervoso. Até a primeira defesa na partida, “parecia que nunca tinha jogado bola”.
“O Diego, nosso capitão, falou muito sobre a questão emocional durante a competição. Ele sempre dizia: ‘Não leve tudo para o lado emocional. Claro que a emoção é importante, mas aqui é nosso trabalho. Temos que ser frios’. Eu fiz algumas defesas importantes, mas o Marlon e o Arthur foram caras gigantes ali, impedindo os gols em lances que passaram por mim”, recordou o arqueiro.
Logo após o 1 a 0, marcado por Ferrão, o argentino Kevin Arrieta recebeu a bola, puxou para a canhota e ficou cara a cara com Willian. O goleiro brasileiro deu dois passos à frente e defendeu o chute com o braço esquerdo. Dali ao 2 a 0, marcado por Rafa Santos, foram mais duas defesas importantes.
Menos de um minuto depois, o guarda-metas foi posto à prova novamente. Os argentinos tocaram a bola pelo meio até encontrar um dos alas já dentro da área. Ele chutou de primeira, mas o goleiro brasileiro conseguiu se jogar para rebater a bola, jogada para escanteio em seguida pela defesa brasileira. Outras seis intervenções foram necessárias nos cinco minutos que faltavam para o fim do primeiro tempo.
O gol dos rivais só saiu a dois minutos do fim da partida. E Willian fez quatro defesas até o fim do jogo, a última delas a dez segundos do final.
O goleiro disse ter lido nas redes sociais que os argentinos consideravam um “alívio” que fosse ele o titular, não Guitta, considerado um dos melhores da posição na história do futsal brasileiro. Terminado o jogo, o diário Olé chamou o brasileiro de “grande herói do clássico” e apontou que “a Argentina mereceu mais, mas perdeu”.
“Eles criam uma narrativa para dizer que são melhores do que nós. Nós ganhamos, mas eles são melhores. Fizemos o resultado e demos a bola para eles. Em tantas partidas eles fizeram isso contra a gente. Eles não souberam aproveitar isso. Às vezes, não conseguem aceitar mesmo que eles perderam porque a gente foi melhor”, disse Willian.
O trio de goleiros era formado por Willian, Guitta e Roncaglio. Thiago Mendes Rocha, o Guitta, 37, já havia sido campeão mundial em 2012. Ele atua na Rússia. Diego Roncaglio, 36, joga na Bélgica. Ambos foram campeões da Copa América em fevereiro deste ano, competição da qual Willian não participou.
“Ah, se eu fosse o técnico, teria colocado o Guitta para jogar”, contou Willian, aos risos. “Imagine a pressão que foi administrar tudo isso. Mas aí eu pensei: ‘Cara, meu trabalho eu fiz. Se estou aqui como titular, é porque fiz um bom trabalho’. E ele e o Roncaglio me ajudaram muito. Se fosse qualquer um deles, eu ajudaria também. Agradeço muito a eles e ao técnico pela confiança, porque sou o mais novo e fui escolhido.”
Da Copa do Mundo, disputada no Uzbequistão, Willian foi para a Rússia, onde joga no Norilsk Nickel. O brasileiro é ídolo do Joinville, time que defendeu por 11 temporadas, e foi laureado como melhor goleiro do mundo em 2023.
“Infelizmente, infelizmente mesmo, não conseguimos voltar ao Brasil. As pessoas falam que foi muito legal a repercussão, recebemos muita mensagem, as crianças pedindo que mandasse um vídeo. É difícil dar atenção a todo o mundo. Até contratei uma assessoria de imprensa para me ajudar com tudo isso”, contou, incrédulo.
“Eu ainda não consigo descrever o sentimento de ser campeão mundial, de entrar naquela quadra. A gente fez uma baita história, mas não é algo mensurável. Eu pego a minha luva de ouro, olho a medalha de campeão, mas eu ainda não consigo compreender.”