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A volta do vapor de Cachoeira

O estrangulamento do sistema ferryboat gera muitas reclamações, mas nem por isto justifica priorizar, mais uma vez, a solução rodoviarista

  • Foto do(a) author(a) Waldeck Ornelas

Publicado em 14 de outubro de 2024 às 05:00

O título é, naturalmente, simbólico. O objetivo aqui é comemorar o retorno do transporte de passageiros na Baía de Todos-os-Santos (BTS). É certo que existe, e tem grande fluxo, a ligação Mar Grande-Salvador. Mas uma andorinha só não faz verão.

Desde que implantado o sistema ferry-boat, em operação a partir do início dos anos 1970, a BTS perdeu os seus navios de passageiros. Com isto, a vida urbana e econômica no entorno da imensa baía sofreu um choque. Algumas cidades – de um total de dezesseis – criaram novos vínculos, por meio do transporte rodoviário, mas, em conjunto, houve um comprometimento significativo das perspectivas de desenvolvimento. O balanço geral é de uma espécie de congelamento no tempo, com a estagnação passando a dominar a dinâmica do velho Recôncavo e sua interação com Salvador, por conta do abandono da via aquaviária.

Foi o rodoviarismo quem impôs o sistema ferry-boat. O objetivo era fazer atravessar os automóveis pela Baía. Mas, ao ser implantado, e bastava uma única linha – a de São Joaquim-Bom Despacho – o ferry cancelou o transporte de passageiros, condenando as pessoas a segundo plano. Os habitantes do entorno da BTS que buscassem novos meios de reconstruir a sua vida de relações. O que se viu foi a estagnação e a decadência do Recôncavo, aquela que era, desde o Brasil Colônia, a mais importante região econômica da Bahia.

Ainda agora, seguindo a ultrapassada lógica rodoviarista, bilhões serão aplicados na construção de uma ponte reconhecidamente antieconômica, mais uma vez para servir aos automóveis, ao invés de promover a eficiência do ferry, dotando-o do número adequado de embarcações. Uma solução bem mais barata, racional e lógica, capaz de atender à demanda da travessia de veículos, além de preservar a nossa Baía.

O estrangulamento do sistema ferry-boat nos raros momentos de pico, nas limitadas condições operacionais do presente, gera muitas reclamações, mas nem por isto justifica priorizar, mais uma vez, a solução rodoviarista.

A inauguração de uma linha de passageiros entre São Joaquim e Itaparica restabelece a prioridade para os humanos, as pessoas. São elas que formam a sociedade, não os carros. Estes tornaram-se uma praga, a invadir e ocupar todos os espaços, inclusive os pequenos espaços verdes de nossas cidades – os canteiros, os jardins, as praças e por aí vai. E faz prevalecer, em cabeças viciadas em carro, soluções onerosas e inadequadas. Desconhecem-se as intensas mudanças culturais e urbanas pelas quais o nosso mundo está passando.

Operada por um moderno catamarã, com capacidade para 240 passageiros, a nova linha revive a alternativa marítima para a circulação dos moradores, e servirá também ao turismo, preenchendo uma lacuna inexplicavelmente existente até agora.

O anúncio de uma chamada para concessão da ligação Mar Grande-Salvador, envolvendo a substituição das velhas lanchas por modernas embarcações, sinaliza uma diretriz que, prevalecendo, levará certamente à abertura de novas frentes. De imediato, lembro, pelo menos, Madre de Deus, São Francisco do Conde, São Roque, Maragojipe, Cachoeira e Jaguaripe.

Embora reflitam ações isoladas, essas duas iniciativas podem ser o marco inicial da retomada e do desenvolvimento de um sistema de transporte de passageiros para a Baía de Todos-os-Santos. Que se torne eficiente, organizado e moderno. Não está chegando a partir de um plano de transporte de passageiros, mas nem por isto deixa de merecer os aplausos e, certamente, a adesão dos baianos.

Bons ventos começam a soprar na esquecida Baía de Todos-os-Santos. A economia do mar agradece. E a Capital da Amazônia Azul avança.

Waldeck Ornélas é especialista em planejamento urbano-regional. Autor de Cidades e Municípios: gestão e planejamento.

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