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Brilha a Estrela Solitária outra vez – 26/10/2024 – Juca Kfouri

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Armando Nogueira faria um poema, descreveria cada um dos cinco gols com palavras achadas no fundo d’alma, escolhidas meticulosamente para fazer da crônica esportiva peça que Machado de Assis assinaria.

João Saldanha disfarçaria a alegria e o orgulho com críticas severas ao primeiro tempo e ainda acharia por que reclamar de não ter sido de seis ou sete.

E Sandro Moreira poria na boca de Luiz Henrique frases dignas de Mané Garrincha ou do goleiro Manga, o Manguinha.

As três maiores estrelas da imprensa apaixonada pelo Botafogo de Futebol e Regatas estariam em êxtase.

Havia quanto tempo não víamos time brasileiro jogar de maneira tão mágica e durante um tempo inteiro, sem parar, em busca do gol, sem economizar em dribles, na defesa, no meio de campo e no ataque.

Mestre Armando repetiria que para Luiz Henrique “o espaço de um pequeno guardanapo era um enorme latifúndio”, como escreveu sobre Mané Garrincha.

Mestre João absolveria Luiz Henrique com sentença definitiva: “Quero ele no meu time, não para casar com minha filha”.

Mestre Sandro desceria ao vestiário e perguntaria a John Textor se já não está na hora de ele aprender português, porque em inglês jamais descreverá suficientemente o que viu no Nilton Santos, que, aliás, era amigo dele, Sandro —pois este, então, é que o americano jamais compreenderá.

O poetaço Paulo Mendes Campos, em seu “O Botafogo e eu”, versejou: “O Botafogo é mais abstrato do que concreto; tem folhas secas; alterna o fervor com a indolência; às vezes, estranhamente, sai de uma derrota feia mais orgulhoso e mais botafogo do que se houvesse vencido; tudo isso, eu também”.

O poetinha Vinicius de Moraes perguntou ao Mr. Buster, milionário americano, que não se conformava com o fato de ele querer voltar para o Brasil, embora tivesse mais um ano de graça nos Estados Unidos: “Mas me diga uma coisa, Mr.Buster/Me diga sinceramente uma coisa, Mr.Buster: o senhor sabe lá o que é ter uma jabuticabeira no quintal?/O senhor sabe lá o que é torcer pelo Botafogo?”.

Ah, mister Buster, isso o senhor Textor já aprendeu, e certamente é a melhor lição da vida dele.

Até uma criança corintiana se deixa embalar pela estrela solitária e o par de cores alvinegras, acreditem a rara leitora e o raro leitor.

Se o rival rubro-negro teve um Jesus, o Botafogo também tem, a rigor mais poderoso, Igor Jesus, que faz gols.

Se o outro é Jorge, Artur não lhe fica atrás e goleia no português.

Imagine a alegria dos irmãos João e Walter Moreira Salles, e dá até medo perguntar se estavam no estádio, porque, se lá não foram, jamais se perdoarão.

Se bem que, mesmo que não tenham estado, estavam, pois não é o corpo presente apenas que faz o torcedor, mas o sentimento a vida toda e depois dela. O corpo presente ajuda, e o ausente preenche.

Então, o que falta ao Botafogo na temporada, mesmo sendo sabido que há jogos que valem títulos?

Ganhar o Campeonato Brasileiro e a Libertadores é o que não responderia o tricolor Nelson Rodrigues, com horror dos idiotas da objetividade.

Vencer um ou outro, também não.

Renascer, renascer e renascer.

Eis aí o destino do Botafogo, campeão desde 1907.

Como Armando, João, Sandro, Paulo e Vinicius: imortais!


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