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Comércio precisa seguir Acordo de Paris, diz embaixador da França

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Emmanuel Lenain afirma que exigências ambientais da União Europeia para o acordo com o Mercosul seguem regras já aceitas por todos

Emmanuel Lenain, 54 anos, embaixador da França no Brasil, disse que as exigências ambientais para o trato da UE (União Europeia) com o Mercosul seguem o Acordo de Paris, com metas para limitar o aquecimento global. “A opinião pública francesa, também europeia, espera um acordo de livre comércio que contribua para chegar a objetivos gerais contra o aquecimento global e a proteção ambiental“, afirmou.

Assista à entrevista (11min13s)

Há impasse nas negociações do acordo de livre comércio entre a UE e o Mercosul, que começaram em 1999, no governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB).

O presidente da França, Emmanuel Macron (Renascimento, centro) criticou o acordo em visita ao Brasil em março de 2024. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse em julho que a UE travou as negociações.

BELÉM SEDE DA COP30

O embaixador francês afirmou que o Brasil acertou ao escolher Belém (PA), no “coração da Amazônia”, para sediar em 2025 a COP30, conferência da ONU (Organização das Nações Unidas) sobre meio ambiente. “É um símbolo magnífico”, disse. Afirmou ter confiança de que o governo brasileiro conseguirá resolver dificuldades de acomodação na cidade.

Lenain representou o França na China, como cônsul em Xangai, e na Índia, como embaixador. Os 2 países e o Brasil, iniciaram o grupo Brics, também com a Rússia e a África do Sul. O grupo foi ampliado em 2024.

O embaixador disse que a França tem “muito respeito” pelos integrantes do Brics, mas mantém ressalvas à formação de blocos para evitar “fragmentar o mundo”.

GOVERNANÇA GLOBAL NO G20

Lenain afirmou esperar que a reunião do G20, em 18 e 19 de novembro de 2024 no Rio, tome decisões para melhorar a governança global. A França apoia a reivindicação do Brasil de ter assento permanente no Conselho de Segurança da ONU.

Eis a transcrição da entrevista:

Poder360: O presidente Emmanuel Macron está no poder desde 2017. Mesmo sendo embaixador da França no Brasil somente desde 2023, o senhor pode comparar as relações bilaterais no governo de Jair Bolsonaro (PL) e agora no governo de Lula?

Emmanuel Lenain: Creio que estamos atualmente com relações excepcionais, pela qualidade e pela confiança em todos os níveis, principalmente entre o presidente Macron e o presidente Lula, que mantêm uma comunicação constante e tiveram a oportunidade de passar vários dias juntos em março, durante a visita de Macron ao Brasil.

Existe uma certa frustração no governo brasileiro devido às dificuldades nas negociações do acordo entre o Mercosul e a União Europeia. O presidente Macron mencionou que é necessário renegociar tudo do zero por conta de alguns problemas. Podemos esperar resultados rápidos?

A França e a Europa querem continuar a desenvolver suas relações econômicas com o Brasil. A França é o 3º maior investidor estrangeiro no Brasil. Temos muitas empresas, responsáveis por mais de 500 mil empregos no Brasil. Portanto é nosso interesse. Nós queremos.

No entanto, o acordo negociado há mais de 20 anos não cumpre as condições estabelecidas. Por quê? Porque a opinião pública francesa, também europeia, espera um acordo de livre comércio que contribua para chegar a objetivos gerais contra o aquecimento global e a proteção ambiental, princípios e objetivos caros aos europeus.

O senhor mencionou as dificuldades ambientais nas negociações. Qual é o peso desse capítulo nas discussões em geral, ou melhor dizendo, nas dificuldades de negociação?

É muito importante, pois esperamos que todos os avanços feitos, não em 20 anos, mas em alguns anos, principalmente o Acordo de Paris, estejam integrados no acordo.

Não há motivo para que os padrões exigidos de empresas, para os agricultores, para todas as categorias econômicas na Europa, não sejam também respeitados por outros países que desejem comércio livre com o nosso.

O senhor menciona uma obrigação que foi criada recentemente, certo?

Criada e aceita, porque, que eu saiba, o Brasil é signatário também, na COP21, do Acordo de Paris.

Portanto é por isso, certo? Por causa das negociações do Acordo de Paris?

Com certeza.

Ainda no capítulo ambiental, há aproximadamente 10.ooo garimpeiros atuando ilegalmente na Guiana Francesa. O que pode ser feito para reduzir esse problema pela França e pelo Brasil?

É um problema real. O garimpo ilegal representa uma ameaça tanto para o Brasil quanto para a Guiana Francesa, impactando o meio ambiente, porque se usam métodos que causam danos irreparáveis à natureza, que acabam com a saúde das pessoas, utilizando mercúrio. Também é uma fonte de outras atividades criminosas, de lavagem de dinheiro. Nós temos um interesse muito forte de trabalhar em conjunto. O melhor modo de resolver isso é pela cooperação. É o que fazem a França e o Brasil. Fazer operações conjuntas, com patrulhas da polícia brasileira e a política francesa ao longo da fronteira, fazer que nossos cientistas trabalhem para melhorar a rastreabilidade do ouro extraído ilegalmente, para saber de onde vem, para que, se vier de origem ilegal, possa ser retirado do comércio. Portanto, é uma área muito importante de cooperação entre a França e o Brasil.

É possível esperar resultados rápidos em relação a isso?

Nós esperamos. São ações de longo prazo, ao longo de vários anos, mas nosso objetivo é avançar rapidamente. A cooperação teve uma aceleração em março. Assinamos um acordo entre os 2 países, quando o presidente Macron veio ao Brasil, e agora estamos na fase de colocar isso em prática.

Podemos esperar resultados em 2025?

Sim, com certeza, creio que veremos resultados rapidamente, sobretudo efeitos da ação policial e do controle.

Em 2025, haverá a COP30 em Belém. O que o senhor e o governo francês esperam?

Muito, porque, antes de tudo, é uma COP muito importante, são 10 anos do Acordo de Paris, a COP em que faremos um balanço das ações e daremos um novo impulso ao tema. E esperamos muito também porque o Brasil é um país-chave nas questões de biodiversidade e de proteção ambiental e o grande país do sul, que tem um efeito simbólico grande. E estamos muito satisfeitos, muito impressionados, pela escolha do Brasil de fazer essa COP em Belém, um lugar tão simbólico, no coração da Amazônia. É um símbolo realmente magnífico.

Há preocupações no Brasil e em outros países sobre questões logísticas porque não é a maior cidade do país. Qual a sua avaliação?

Veja, a gente deve correr riscos, às vezes é complicado, mas nós temos plena confiança no Brasil para fazer dessa COP um grande sucesso.

O que podemos esperar da reunião de chefes de Estado do G20 no Rio em 18 e 19 de novembro?

Esperamos avanços concretos sobre as prioridades estabelecidas pelo Brasil sobre a luta contra a pobreza e a fome, portanto a aliança global que o presidente Lula busca. A França decidiu participar, fará isso em alguns dias. Então é um momento importante. Além disso, também esperamos um novo impulso sobre as questões de clima e de biodiversidade. Certamente é importante uma reflexão e talvez decisões sobre a reforma do sistema de governança mundial. Nós queremos que todos os países tenham o seu lugar. E, evidentemente, o Brasil. Como sabe, a França é, há vários anos, uma das mais fervorosas defensoras da entrada do Brasil como membro permanente do Conselho de Segurança da ONU. Achamos que é uma lacuna para a comunidade internacional não ter o Brasil como voz permanente no Conselho de Segurança.

O senhor acha que isso é possível? Há muita oposição de outros países.

É complicado. Mas, de qualquer modo, a França não diminuirá seus esforços, continuará a fazer campanha para isso.

A partir de sua experiência na China, na Índia e agora no Brasil, como o senhor avalia a importância do Brics no contexto global?

A importância dos países do Sul é enorme. Devemos reconhecê-la, devemos valorizá-la, sobretudo o peso na governança mundial. Eu fico impressionado pelo dinamismo que eu vejo no Brasil. Eu tenho muita confiança no futuro do país. Sobre o Brics, essa ideia do Sul Global, é algo que meu país vê com um pouco de reserva, porque nós pensamos que temos que evitar ter categorias, fragmentar o mundo. O Norte de um lado, o Sul de outro, que não podem cooperar, que devem se enfrentar. Nós pensamos que há tantos problemas que precisam de decisões globais, que necessitam que os países se juntem, que seja o meio ambiente, a saúde, a estabilidade financeira, a resposta à pandemia etc. Nós pensamos que não são tempos para a constituição de blocos de países. Temos muito respeito pelos países que constituem o Brics, mas muitas reservas sobre a formalização desse tipo de bloco.

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